Há exatos 30 anos completos neste domingo uma das páginas mais tristes da história do sistema carcerário brasileiro não pode e jamais ser esquecida.
O Massacre do Carandiru chocou o país em meio às eleições municipais e do impeachment de Fernando Collor de Mello. A desastrosa intervenção da Polícia Militar para conter uma rebelião resultou em 111 detentos mortos. A rebelião ocorreu no Pavilhão 9 durante uma partida de futebol no presídio. A operação policial liderada pelo coronel Ubiratan Guimarães tinha como justificativa acalmar os ânimos e foi autorizada pelo secretário de segurança Pedro Campos sem passar pela consulta ao governador Luiz Antônio Fleury Filho.
Segundo o Estadão do dia 4 de outubro a Polícia Militar entrou no presídio sendo recebida à bala pelos detentos e o conflito durou meia hora, a luz foi cortada e houve pânico nas celas com corpos empilhados e espalhados pelo pavilhão. 32 policiais ficaram feridos na operação. Dias depois Pedro Campos foi exonerado e Michel Temer, ele mesmo assumia o posto de secretário de segurança pública.
O coronel Ubiratan foi considerado o responsável e em julgamento no ano de 2001 foi condenado à 632 anos de prisão (102 mortos = 6 anos para cada detento) e recorreu da sentença sendo eleito deputado estadual em 2002. No novo julgamento em 2006 ele foi absolvido, mas em setembro do mesmo ano foi assassinado com um tiro no abdômen.
O massacre originou a criação do PCC - Primeiro Comando da Capital no ano de 1993. O PCC liderado por Marcos Herbas Camacho, o Marcola ganhou as manchetes dos jornais em fevereiro de 2001 com a rebelião que durou 18 horas e em 2006 comandou uma onda de terror que paralisou São Paulo.
Passados 30 anos nenhum PM foi condenado sequer o caso foi encerrado na justiça. O presídio foi demolido em 2002.
O massacre rendeu canções na música sendo as mais famosas Haiti de Gilberto Gil e Caetano Veloso e um dos trechos da letra dizia o seguinte:
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
Outra canção que retrata bem o massacre é Diário de um detento do grupo de rap Racionais Mc's. A letra composta por Mano Brown retrata bem o massacre no trecho final.
Tudo funcionando, limpeza, jumbo
De madrugada eu senti um calafrio
Não era do vento, não era do frio
Acertos de conta tem quase todo dia
Tem outra logo mais, eu sabia
Lealdade é o que todo preso tenta
Conseguir a paz, de forma violenta
Se um salafrário sacanear alguém
Leva ponto na cara igual Frankestein
Fumaça na janela, tem fogo na cela
Fudeu, foi além, se pã, tem refém
Na maioria, se deixou envolver
Por uns cinco ou seis que não têm nada a perder
Dois ladrões considerados passaram a discutir
Mas não imaginavam o que estaria por vir
Traficantes, homicidas, estelionatários
Uma maioria de moleque primário
Era a brecha que o sistema queria
Avise o IML, chegou o grande dia
Depende do sim ou não de um só homem
Que prefere ser neutro pelo telefone
Ratatatá, caviar e champanhe
Fleury foi almoçar, que se foda a minha mãe!
Cachorros assassinos, gás lacrimogêneo
Quem mata mais ladrão ganha medalha de prêmio!
O ser humano é descartável no Brasil
Como modess usado ou Bombril
Cadeia? Claro que o sistema não quis
Esconde o que a novela não diz
Ratatatá! Sangue jorra como água
Do ouvido, da boca e nariz
O Senhor é meu pastor
Perdoe o que seu filho fez
Morreu de bruços no salmo 23
Sem padre, sem repórter
Sem arma, sem socorro
Vai pegar HIV na boca do cachorro
Cadáveres no poço, no pátio interno
Adolf Hitler sorri no inferno!
O Robocop do governo é frio, não sente pena
Só ódio e ri como a hiena
Ratatatá, Fleury e sua gangue
Vão nadar numa piscina de sangue
Mas quem vai acreditar no meu depoimento?
Dia 3 de Outubro, diário de um detento
Vejamos como a imprensa brasileira registrou o massacre:
O massacre ganhou a primeira página da Folha e do Estadão no domingo, 4 de outubro, no jornal O Globo uma nota em uma coluna.
A repercussão do ato nas páginas dos jornais: Estadão deu duas páginas, O Globo uma e Folha três páginas.
A extinta revista Manchete mostrou na matéria de abertura de sua edição a foto dos corpos empilhados, a revista Veja deu capa e matéria de 12 páginas.
A chacina teve mais um capítulo nesta semana pois a poucos dias de deixar o poder o presidente Jair Bolsonaro concedeu indulto de Natal pros policiais que participaram da operação e todos os policiais podem ter suas condenações extintas e isso me deixa revoltado.
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